O esôfago de Barrett (EB) é uma condição patológica adquirida, caracterizada pela substituição do epitélio estratificado pavimentoso do esôfago pelo epitélio colunar especializado do tipo intestinal. É uma condição que se desenvolve como consequência da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) de longa data. Seu diagnóstico é realizado através da endoscopia digestiva alta com biópsia.
Endoscopicamente o EB é caracterizado pela presença de mucosa glandular no esôfago tubular acima da junção esofagogástrica por pelo menos 1 cm. Na luz branca, a mucosa do EB tem a coloração característica rosa-salmão.
É designado EB curto quando o epitélio glandular é restrito aos 3 cm distais do esôfago tubular, e EB longo, quando a mucosa glandular ocupa mais de 3cm na direção cranial do esôfago tubular.
A metaplasia intestinal colunar do EB não causa sintomas. A maioria dos pacientes fazem o diagnóstico a partir dos sintomas associados a DRGE, como azia e regurgitação. Pacientes com complicações relacionadas ao EB podem apresentar disfagia ou odinofagia, relacionadas a ulcerações ou estenoses esofágicas.
Os fatores de risco para desenvolvimento do EB são os que favorecem o refluxo gastroesofágico, e incluem a hérnia de hiato, incompetência do esfíncter inferior do esôfago, obesidade, dentre outros.
Os principais diagnósticos diferenciais são: a hérnia de hiato, a heterotopia da mucosa gástrica no esôfago e a metaplasia intestinal na junção esofagogástrica (JEG). Na hérnia de hiato as biópsias demonstram mucosa gástrica de padrão corpo fundo ou cárdia. A heterotopia de mucosa gástrica no esôfago é mais frequente no esôfago cervical e se expressa endoscópicamente como ilhas de mucosa glandular róseo-avermelhada em meio ao epitélio escamoso. Já a metaplasia intestinal na JEG apresenta padrão histológico idêntico a metaplasia intestinal do EB, portanto o conhecimento do local preciso da biópsia se foi acima ou abaixo da JEG, é essencial para o diagnóstico correto.
A presença do EB é fator de risco para o desenvolvimento de câncer de esôfago (adenocarcinoma) em uma proporção que varia de 0,5 a 1% paciente/ano. Este fato justifica a necessidade da realização de um acompanhamento especializado.
O rastreamento do EB é controverso. Alguns consensos indicam realizar o rastreamento em pacientes com múltiplos fatores de risco para adenocarcinoma de esôfago como: hérnia de hiato, idade maior que 50 anos, sexo masculino, DRGE, obesidade central, tabagismo, e antecedente familiar de EB ou adenocarcinoma esofágico em parente de primeiro grau.
O tratamento do EB baseia-se em fazer o controle do refluxo e diminuir de forma eficaz o retorno ácido por meio da administração de medicamentos ou de cirurgia, porém vale ressaltar que nenhum dos métodos reverte a presença do EB ou eliminam o risco de câncer.
O seguimento refere-se à realização de endoscopias em série em intervalos regulares, com o objetivo de detectar displasia e câncer precoce em estágio curável. O intervalo de vigilância da endoscopia digestiva alta é determinado pelo grau de displasia encontrado, que podem ser: EB sem displasia, EB com displasia de baixo grau ou EB com displasia de alto grau.
De acordo com A ASGE (American Society of Gastrointestinal Endoscopy) nos casos em que não há displasia, a vigilância é controversa, aceitando-se que seja realizada endoscopia a cada 3 a 5 anos com biópsias seriadas dos quatro quadrantes esofágicos, a cada 2 cm de área do EB, além de lesões suspeitas. Tratamento com ablação pode ser realizado em casos selecionados.
Nos casos em que há displasia de baixo grau, após confirmação por um segundo patologista com expertise em trato gastrointestinal, EDA deve ser repetida em 6 meses para confirmar a presença da displasia e após deve ser realizada anualmente, realizando as biópsias seriadas a cada 1 a 2 cm por quadrante esofágico. Ablação ou ressecção devem ser considerados.
Biópsias com achado de displasia de alto grau sempre deve ser reavaliadas por patologista experiente. Vigilância só é realizada em pacientes onde não é possível a realização de ablação ou cirurgia. Nesses casos devem ser realizadas a cada 3 meses, com biópsias nos quatro quadrantes a cada 1 cm.
REFERÊNCIAS:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6140158/
https://www.giejournal.org/article/S0016-5107(12)02574-6/fulltext