Lesão de Dieulafoy

A lesão de Dieulafoy (LD) foi descrita pela primeira vez pelo cirurgião francês Paul Georges Dieulafoy em 1898.  É uma causa incomum de hemorragia gastrointestinal, que quando presente, se manifesta através de sangramentos volumosos. A LD é uma artéria tortuosa e de tamanho incomum que corre ao longo da mucosa muscular do trato gastrointestinal (calibre com um diâmetro de 1-3 mm). Está localizada próximo à superfície mucosa e sujeita a lesões e consequente sangramento. Esta lesão é uma causa incomum, mas importante de hemorragia gastrointestinal, com uma incidência de 2% para todas as causas de hemorragia gastrointestinal e até 6% de sangramento não varicoso no trato gastrointestinal superior. A literatura revela que essas lesões isoladas ocorrem mais comumente na árvore brônquica ou no trato gastrointestinal. O último envolve mais comumente o estômago (75% -95% dos casos).

Como dito anteriormente, as LD são uma causa incomum de sangramento gastrointestinal superior não varicoso. Duas hipóteses para explicar a razão do sangramento espontâneo dessas lesões foram propostas: a natureza pulsátil da artéria submucosa persistente de calibre pode causar a erosão da mucosa sobrejacente e o vaso se projetar através da mucosa e sangrar como consequência direta da parede arterial lesão do conteúdo gástrico. Uma teoria alternativa é que o desgaste gástrico relacionado à idade promove trombose dentro da artéria submucosa, o que eventualmente leva à necrose do vaso afetado.

O grande desafio desta doença está no pequeno tamanho da lesão e na sua característica de sangramento intermitente, assim, muitas vezes durante a realização do exame de endoscopia, a lesão se torna de difícil localização caso o sangramento não estiver ativo. Por esse motivo, a apresentação clínica da LD é clássica: hematêmese e melena com significativa queda de hemoglobina e um exame de endoscopia normal ou com achados que não explicam o sangramento. Geralmente a hematêmese é maciça e intermitente.

Acredita-se que a LD seja de origem congênita, também fortalece a teoria congênita os casos descritos de LD em recém-nascidos. A hemorragia pode ocorrer em qualquer faixa etária mas é mais frequente acima dos 60 anos e duas vezes mais frequente em homens do que em mulheres. Doenças associadas estão presente em até 90% dos pacientes e o uso de alguns medicamentos (antiinflamatório, anticoagulante) podem aumentar a incidência do sangramento.

O diagnóstico, assim como o tratamento, é realizado através da endoscopia digestiva alta (EDA). Através da EDA a LD é diagnosticada em até 70% dos casos. Porém, algumas vezes várias endoscopias podem ser necessárias  para se fazer o diagnóstico.  Até 6%  dos pacientes necessitam 3 ou mais exames endoscópicos para encontrar a lesão.

O tratamento endoscópico é o método de escolha nas lesões acessíveis endoscopicamente, com sucesso na terapia em mais de 90% dos casos. Podem ser utilizados métodos térmicos, injeção de agentes esclerosantes  e terapias mecânicas (ligadura elástica e clipes). Cada técnica tem suas vantagens e desvantagens mas existe evidência na literatura de que as terapias mecânicas são mais efetivas.  Terapias combinadas também apresentam menores taxas de ressangramento quando comparadas com a monoterapia. A angiografia pode ser utilizada em casos que falham à terapia endoscópica. A angiografia é o método de escolha para LD nos brônquios.

A cirurgia é reservada apenas para os  casos onde existe falha endoscópica e angiográfica, pode ser realizada por laparoscopia e, nesses casos, a tatuagem endoscópica deve ser realizada para facilitar a identificação da área a ser ressecada.

 

 

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7325347/

 

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7383276/

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